quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os olhos.


São esses olhos, que tudo vêem, mas nada enxergam. Mirando-se em um espelho que transparece apenas um desfalque do reflexo da alma. Uma mancha, no lugar daquilo que deveria ser o mais importante: o interior. Mas esses olhos que se dizem tão espertos, são tão ingênuos diante da grandeza do exterior. Só enxergam o que bem os convêm: aqueles que brilham por fora, que reluzem de maneira tão intensa, que os atrai. Entretanto, por dentro é infinitamente obscuro, negro, vazio e sem nenhuma formosura. Talvez por essa razão, os bons olhos não consigam vê-los como realmente são. Aquela ruína que há dentro do ser. Não me refiro a qualquer ser, mas aqueles seres pútridos. Pois, suas máscaras os acobertam de tal forma, que eles se escondem sob falsas aparências, mostrando assim, apenas aquilo que é belo, embora passageiro... Portanto, mesmo com toda a beleza do mundo, quando é chegada a hora de ir para o túmulo, todos possuem o mesmo aspecto: de um morto. Eles deixarão nada em vida, pois nada foi plantado. O encantamento se foi, pois nada dura para sempre: somente o amor... O que se guarda nos olhos, não se guarda no coração.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Querido.


Querido, devo confessar que sabia que assim seria. Eu iria mais cedo ou mais tarde senti-lo pulsando fortemente em meu peito como um pássaro que voa rumo ao desconhecido e finalmente encontra seu lar. Tentei com todas as forças me conformar de que certo não seria, nem comigo e nem contigo, mas não sou de conformismos. Por isso choro, toda vez que em meu travesseiro repouso minha cabeça, pois não consigo aquietar meu coração. Lembro-me deste teu sorriso de menino moleque que parece sempre querer algo mais, algo que é indecifrável. Decidi então entregar-te meu único bem. Aquele que carrego em meu peito e protejo para que possa permanecer o mais intacto possível, assim que gostaria de entregá-lo. Por inteiro, de uma só vez e não aos poucos, pedaço por pedaço... Sempre me achei como um som de cazuza que se diz ‘exagerado’. Assim que me sinto na maioria das vezes. Sinto como se deve sentir: amor – paixão – gostar – estar afim. Enfim.

Estou traindo a pessoa que sou para poder dizer-te isto, mas não queria que você partisse sem ao menos saber o que se passa dentro de mim. Imagino que seja meio confuso para você, mas é assim que me sinto a maioria do tempo e nem ao menos sei explicar do que se trata. São tantos sentimentos saltando por entre meu interior ao mesmo tempo, é impossível assimilar. Só queria que soubesse que se existia algum orgulho em mim, ficou para trás, detrás da porta do quarto em que o vi, não pela primeira vez, mas por um ângulo diferente. Com novos olhos. Enfim... Entreguei-o tudo aquilo que me pertencia e então chegamos nesse impasse, metade a metade. Parte sua diz que sim e outra que não. Qual delas representa sua verdade? Passei a observar seus olhos, esses não mentiriam, por mais treinados que fossem. Tentei ler seus sinais, por mais confusos que me pareciam, e me vi perdida. Presa em uma estrada com dois caminhos e não sei qual dos dois trilhar. Mas não continuarei com melodramas baratos de boteco de esquina... Só quero dizer que amo o jeito que você faz eu me sentir e não queria perder isso, mas se tiver que ser assim, assim será. Apenas não se esqueça em nenhum momento que eu amo a pessoa que você é. Do jeito que é, não importando o que. É você, desse mesmo jeito que me agrada e que me faz feliz, nesse pouco tempo, nos pequenos momentos em que fomos nós dois apenas. Os meros detalhes. Guardei cada pedacinho de ti em minha memória. Foram esses detalhes que a princípio pareciam insignificantes e me pegaram. Não vou esquecer-me disso, jamais. As boas coisas devem ser imortalizadas, como uma canção.

Adoro-te, queria poder dizer: amo-te. Mas talvez seja cedo ou tarde demais.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nocivo.


Quando mirou para dentro de si, estava apegado a algo que até então desconhecia. Embora duvidasse, possuía um grande otimismo e se agarrava a qualquer fiasco de esperança. Pensava que valia à pena acreditar em algo, ou não existiria razão para se estar vivo. Magia... Sua busca era infindável, ele queria a bendita magia. O descompasso do coração. Aquele sentimento infeliz que todos se agarram desesperadamente. Todos querem sentir esse infortúnio. Ele também queria, e por que não haveria de querer? Não é atrás desse mal que vivem os homens? E ele era como todos... E eu com a minha ingênua concepção de que ele não iria querer tocar no tão desejado pote d’ouro: ‘ Ninguém irá se machucar dessa vez, sem mais dramas ‘. Sem mais dramas, seria o mesmo que dizer: sem mais vida. Eu só queria saber: quem diabos o permitiu plantar esse sentimentozinho infeliz em seu coração?E não ouse dizer que fui eu, não me culpo por isso. Eu fiz o que tinha que ser feito, fiz tudo como estava escrito no manual: diga sempre a verdade. E eu disse... ‘Eu não o quero (pelo menos não mais). Eu já o vi uma vez, já o senti. Eu sei do que ele é capaz. Não deixe que a magia o engane, esqueça as melodias e as pulsações. Nada disso compensa o estrago que ele pode fazer. ’ Mas ele era teimoso o bastante para querer, e ele queria... Ah, como ele queria aquela coisa nociva denominada: amor.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O conto do solitário .







Descobriu que escrevia mais do que falava...Quando observou escondendo-se em um casulo, o medo de olhar por entre o véu da vida já mostrava-se real. E assim não mais ouvia, só lia e como lia. Não hesitou, sucumbiu ao abatimento. Era tarde, já o tinha visto partir. O desgosto que o prendia na escuridão e escondia sua face sob as sombras. Não resistira, era muito fraco diante da perda.Tão intensa era a lástima que se alastrava pelo ar, ofuscando o brilho do olhar. Deixando-o cada vez mais preso em um círculo vicioso. Tentava permanecer imutável. No entanto, era sensível as mudanças. Sentia o pesar da melancolia, desejava ser intransponível.Porém, tudo mudava na imensidão do exterior. Apenas lá dentro permanecia igual, mas era só tristeza. Pensava: ''Ilusório, apenas imaginação''. Entretanto, não cessava, era real! O sonho não vivido, o sentimento estava vívido. Queria que nunca houvesse visto, nascido ou existido. Assim seria menos penoso aceitar. Se não fosse tão fastidiosa e solitária a passagem, dividiria um teto a dois. Mas sabia ele que esse não era seu destino. Seria divino ou seria amado. No seu mundo não havia espaço para ambos. Escrevia. Sabia que as palavras eram suas únicas companhias.